segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

MAL-ENTENDIDO

Djanira Silva


          Da última vez que encontrei “seu” Amaro, ele estava no box do mercado onde trabalha. Estava irritado, nervoso, danado da vida, a esposa pedira o desquite.
          - A senhora imagine, sempre fui um bom marido, um bom pai. Trato ela muito bem. Vivo de casa para o trabalho, nunca deixei faltar nada a ela nem aos meus filhos. Não sei por que ela quer se separar.
          Seu Amaro estava que nem louco. Conversamos por um bom tempo. Pediu minha opinião. O que poderia lhe dizer? Aprendi que em briga de marido e mulher não se mete a colher.
          Alguns dias depois viajei. Passei alguns meses fora. Ao voltar retomei os afazeres de sempre. No sábado seguinte fui ao mercado. De longe vi que “seu” Amaro não estava no Box. Quem lá estava era seu filho mais velho.
          - Como vai seu pai?
          - Agora está bem, mas enfrentou uma barra. Teve um derrame, quase morre.
          A senhora sabe, ele vinha atravessando uma fase difícil. Além das dificuldades nos negócios, minha mãe estava inventando de se separar. Graças a Deus, desistiu.
          Fiquei satisfeita em saber que a vida do meu amigo tinha entrado nos eixos apesar dos problemas de saúde. Afinal, derrame é uma coisa perigosa.
          Quinze dias depois, voltei ao mercado.
          Fiquei alegre em ver meu amigo trabalhando normalmente.
          - Que prazer, “seu” Amaro, que prazer vê-lo restabelecido.
          - Obrigada, posso dizer que pulei uma fogueira. Posso dizer que estou pronto pra outra.
          - Não diga isso nem de brincadeira. O senhor está muito bem, nem parece que esteve doente. Estou vendo que não deixou seqüela.
          - Deixei nada, graças a Deus ela desistiu da separação.


Obs: Texto retirado do livro da autora - Maldição do Serviço Doméstico e outras maldições.