segunda-feira, 4 de maio de 2009


TEXTO DE WALTER CABRAL DE MOURA
(
wacmoura@nlink.com.br)



E a esperança revoltou-se, rompeu antiqüíssimos pudores, e chorou descaradamente.
Resultou disso um espasmo de dor, um gemido de tristeza, um brilho sombrio no canto dos olhos, um riso safado e o tique-taque do relógio da sala.
A velha tia veio lembrar o chá e as torradas, não havia motivo para esquecê-las, as torradas com boa manteiga e sem esperança.
Agora, jazia na sala de jantar. Chorara pela primeira vez, ela que fora sempre sorrisos. Mas gostara, e muito, como de um orgasmo.
Suas lágrimas lavaram-na por dentro, de uma lavagem que precisava há tempo, e sentia-se, era estranho, maculada e mais limpa.
Em todo caso, sobrevivia, depois de espantoso grito e de surpreendente choro, sem saber se voltaria algum dia a ser a mesma de antes.
Compreender não podia, ninguém exigiria tanto. Lastimava que tivesse de ter sido assim, e tão brutal. Mas, sendo quem era, confiava em que tudo iria acabar bem.