sábado, 1 de outubro de 2011

O TECNICO DE FUTEBOL E O TERNO


Vladimir Souza Carvalho *


          Alguma coisa me diz que técnico de futebol, durante a partida, enfiado num terno, não assenta. Acho também que depois de Wanderley Luxemburgo, ninguém mais ficou em campo de terno, a exceção única de Mano Meneses. A moda deve ter nascido na Europa, de temperatura amena. E, como há, na província, uma velha mania de imitação, ou, macaqueação, na linguagem de eminentes sociólogos, terminaram alguns dos técnicos de futebol tupiniquins a adotar o terno como vestimenta para usar durante os jogos de seus clubes. Não diria ridículo. Afirmo: feio, nada além do que feio.

          Não combina. Por mais bonito, elegante e fino que seja o terno, a incompatibilidade é geral, a começar por um suave sapato social, de sola, pisando no gramado, em lugar de um tênis, mais apropriado para a ocasião. Nem a camisa de linho, de manga comprida, tão ao estilo de Tite, cai bem. Nem a camisa branca, com a gravata pendurada, adotada por Carpegiani, se enquadra igualmente. O técnico deve ir com calça esportiva, camisa do clube e tênis. O Felipão é um bom exemplo. Zagalo foi outro. Ainda se admite a substituição da camisa do clube por uma, do tipo pólo, ao estilo Murici. Só.

          Deixemos o terno para o técnico estrangeiro. Nem tudo que é bom para eles se torna conveniente para o brasileiro, mesmo que, por lá, se tenha a desculpa de clima frio. O europeu tem seus costumes arraigados. Já vi, em praia portuguesa, na Costa da Caparica, pessoas, de paletó e gravata, no domingo pela manhã, passeando na areia. Aqui, entre nós, nordestinos, teria lógica? Perguntar-se-ia se o indivíduo estava ali para fazer exames de fezes. Depois, fica um enorme hiato entre o jogador, de calção e camisa esportiva, com o técnico, desajeitado, em geral, em seu terno.

          Não abro mão nem na Copa do Mundo, nem em qualquer outra disputa. Quem, para se diferenciar, deve ir de terno é o dirigente das federações, dos clubes, os altos mandatários do Estado e sua fiel comitiva. O técnico, não, em absoluto. Além do mais, o terno inibe a gesticulação do técnico. Técnico de futebol deve ficar gritando, gesticulando, fazendo careta quando o time recebe um gol, para as equipes de televisão transformar em notícia. Para tanto, bom, o terno não é o trajo correto. Melhor a roupa esportiva, a combinar com o evento, do mesmo modo esportivo.

          Não vejo nada de radical na posição que ora defendo. Cada ambiente exige a roupa a ser usada. O estádio (quase ia dizendo campo) de futebol reclama esportividade, da mesma forma que, na tribuna de um parlamento, ou na tribuna reservada aos senhores advogados, nos tribunais, não ficaria bem um deputado/senador/advogado, a sustentar suas idéias com uma calça esportiva e a camisa do Flamengo. Nem se admite um juiz, desembargador ou ministro, de chapéu na cabeça, calça e camisa com as cores de time de futebol, em plena audiência e/ou sessão. Desde menino que ouço: em Roma, como os romanos. Tão simples.


Publicado no Diário de Pernambuco