segunda-feira, 3 de outubro de 2011

INDULGÊNCIA, ONTEM E HOJE


D.Edvaldo G. Amaral (*)


          A pregação das indulgências no século 16 (por volta do ano de 1517) foi inoportuna e equivocada..Deu origem à Reforma protestante, termo também equivocado, porque a verdadeira reforma da Igreja só se daria com o Concílio de Trento (1545-1563), convocado por Paulo III e seus sucessores nos três períodos, em que ele se realizou.. Na época, o Papa Leão X decretara uma ampla pregação de indulgências, para arrecadar fundos para a construção da Basílica Vaticana. Daí houve graves abusos, que provocaram a revolta do frade agostiniano Lutero, também porque o escolhido foi o dominicano Tetzel, e não um agostiniano como Lutero pretendia. O Papa suspendeu a pregação e Tetzel foi estudar mais teologia – o que ele realmente muito precisava. O Papa Paulo VI, já nos nossos tempos, reformou a disciplina sobre as indulgências, mais apropriada à atualidade, na esteira do Vaticano II.
          Mas, afinal, o que são as indulgências?
          Indulgência – na linguagem canônica da Igreja – é a remissão diante de Deus da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa, que o fiel, devidamente disposto, obtém pela mediação da Igreja, dentro de determinadas condições. A Igreja, como dispensadora da Redenção, distribui e aplica por sua autoridade o tesouro das satisfações de Cristo e dos Santos.
          É importante distinguir aqui o que é culpa e o que é pena. No pecado, há a culpa, que é oriunda da ofensa a Deus, e a pena, que exige reparação do mal causado. Por exemplo: quem roubou algo de alguém, deve arrepender-se do mal cometido (culpa) e reparar o dano causado (pena). A culpa apaga-se pelo arrependimento diante do Senhor e pela absolvição recebida no Sacramento da Penitência. A pena redime-se por ações de penitência, de caridade, reparando o mal causado, ou pela indulgência concedida pela Igreja.
          Zaqueu recebeu a visita inesperada do Senhor que lhe disse: “Hoje aconteceu a salvação para esta casa, porque também este é um filho de Abraão” – é o perdão da culpa. Mas Zaqueu dissera antes: “Senhor, a metade dos meus bens darei aos pobres, e se prejudiquei alguém, vou devolver quatro vezes mais” – é a reparação do dano (Ver Lucas, 19, 1-10).
          E agora mais uma historinha para ilustrar a distinção entre culpa (que se apaga pelo arrependimento e pelo sacramento da Penitência) e pena (que deve ser paga para reparar o mal praticado):
          Um garoto, filho do melhor amigo do Vigário da paróquia, com uma pedrada, usando um estilingue, quebrou um dos mais belos vitrais da igreja matriz, que o padre importara da Europa. O pai ficou muito aflito, pensando que ia perder a amizade e a confiança do padre. Foi ter com ele e desmanchou-se em mil desculpas pela falta cometida pelo filho (culpa) e pelo dano causado à matriz da paróquia (dano). O Vigário respondeu: “Fique tranquilo, meu filho, eu compreendo muito bem essas coisas de criança. Nossa amizade continua a mesma (perdoou a culpa). Mas você vai pagar à .paróquia o preço de um novo vitral (a pena)!”
          A indulgência é plenária quando remite toda a pena devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa.
          Sempre a Igreja estabelece as condições necessárias para obtê-la. São elas: receber os santos sacramentos da Penitência e da Comunhão, rezar pelo Sumo Pontífice, e ainda rezar um Pai-nosso, uma Ave-Maria e o Credo e fazer o ato específico daquela indulgência. Por exemplo, visitar em determinados dias a igreja que goza deste privilégio, como é o caso da Basílica do Sagrado Coração de Jesus no Recife, dirigida pelos Salesianos, que no dia 16 de janeiro deste ano, foi proclamada como tal pelo Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido.


(*) É arcebispo emérito de Maceió..