Betto Santos*
robertosantos@mail.com
Não sabe ao certo há quantas horas está ali. Olha pela janela, mas não faz idéia de que horas são. Há tempos já havia concluído que esta não era uma informação relevante. As pernas tremem. Frio, cada vez maior.
Curiosidade sempre foi marca característica. Usa um termômetro. 38; 39; 39,5; 40... O frio só aumenta. Uma imagem distorcida... Nem sonho, nem pensamento... Corria com vontade, busca um lugar, um lugar melhor. Havia uma casa, alguns sorrisos, vozes... Mais frio.
Já não havia mais poros que não estivessem úmidos. Sentia sangue, mas não conseguia raciocinar o motivo. O corpo se misturava entre a dor e a dormência. Os sentidos estavam omissos, mas era possível ouvir o bater dos dentes. Luzes coloridas... Escuro... Um gramado. Sentia uma ansiedade, como quem não sabe o que vem na próxima esquina. O frio parecia agora um lugar comum. Vozes, um elevador, um vulto caminhando em sua direção e, estranhamente, se afastando em constante contradição com os passos.
Imagens frenéticas a cada segundo. Era insuportável raciocinar sobre cada uma. Um onirismo infinito. Canções de uma voz grave, solos de guitarra, silêncio. Dentes, um bater de porta, um murmúrio. Arrependimento.
Cenas descritivas sem final. Estaria podendo viver outra vez? Lágrimas, suor, um riso. Nada responde as coordenadas, mas não se importa muito. Inconsciência.
Dor em cada centímetro do corpo. Olhos com sensibilidade à luz. Racionalidade, explicação, razão... Não há frio. Não entende porquês. Muitas lágrimas...
Desespero. Ainda conseguia respirar.