D.Edvaldo G. Amaral (*)
Na madrugada da sexta-feira, 11 de março passado, o Japão sofreu o terremoto mais violento de sua história, centenas de vezes mais forte do que aquele que devastou a capital do Haiti, em janeiro do ano passado. Ao terremoto, seguiu-se no oceano o tsumani, com ondas de até 10 metros de altura e uma velocidade de 800 quilômetros por hora, que arrasaram as cidades da costa leste japonesa, como Sendai, com um milhão de habitantes. Até sábado passado, contabilizavam-se mais de 7000 mortos e cerca de meio milhão de desabrigados.
Isso acontece no país mais preparado do mundo para esse tipo de acidentes. São medidas preventivas nas construções dos prédios, com dispositivos especiais de segurança em suas fundações. São treinamentos da população que, ao menos em Tóquio, todos os anos, faz exercícios coletivos de proteção para um possível terremoto. Sofisticado sistema de alarme emite sinais sonoros e mensagens por rádio, TV e celulares, um minuto antes de começar o abalo sísmico. O sistema de resgate no último terremoto acionou imediatamente mais de 10.000 soldados, 300 aviões e 40 navios de socorro. Interessante é notar que em meio à catástrofe, como informa revista de circulação nacional, não houve pânico, nem se registrou qualquer tumulto ou cenas de violência ou saques. Todos andavam pelas ruas calmamente, disse à revista um brasileiro residente em Tóquio. Nos abrigos improvisados nas cidades destruídas pelo tsunami, reinava a mais absoluta disciplina.
Depois da devastação causada pelo terremoto, vive agora o Japão o terror do perigo da contaminação nuclear. Ele é o único país do mundo até agora, que sofreu um ataque nuclear, com as duas bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945. As gerações de hoje não têm a mínima idéia do que seja uma radiação atômica. Uma publicação de 1982, distribuída no Japão, descreve os horrores da contaminação atômica.. A descrição de uma vítima nuclear é simplesmente horripilante. Cito: ”A carne das vítimas exposta à radiação, devido a queimaduras, começou a putrefar-se no mesmo dia, e logo alojaram-se vermes (larvas de mosquitos) aumentando-lhes o sofrimento. E, mesmo nas pessoas que, aparentemente haviam-se reestabelecido dos ferimentos e queimaduras do dia, apareceram depois efeitos posteriores, tais como quelóides, leucemia, câncer e outros, o que deu prosseguimento às dores das vítimas. Atualmente (1982) vivem ainda aproximadamente 400 mil “hibakusha” (vítimas do bombardeio atômico) e a maioria sofre ainda efeitos retardados, como uma enfermidade conhecida como “bura-bura”, que se caracteriza por um estado de intensa fadiga física, chegando ao ponto de impossibilitar a locomoção. Os “hibakusha” não podem deixar de temer que as radiações a que foram expostos tenham efeitos genéticos em seus descendentes. Por causa desse temor, não foram poucas as pessoas que não se atreveram a casar-se, ou que decidiram não ter filhos. Além disso, muitas desses sobreviventes ao bombardeio atômico têm hoje um profundo sentimento de culpa, por terem fugido, abandonando familiares e amigos em meio àquele inferno de chamas. Muitos perderam de uma vez toda a família, ficando solitários no mundo. Muitos vivem na pobreza extrema, incapacitados de trabalhar pela fraqueza extrema.”
Usina nuclear segura, afirmou com ironia um cientista europeu, é só aquela que ainda não foi construída. As demais...
Paira sobre a humanidade o pavor de uma catástrofe nuclear.
(*) É arcebispo emérito de Maceió.