segunda-feira, 8 de março de 2010

AS EMPREGADAS DOMÉSTICAS



Djanira Silva
djaniras@globo.com
http://blogdjanirasilva.blogspot.com/


É certo que um advogado só substabelece para outro advogado, um médico para outro médico, um engenheiro para outro. No entanto a mulher quando casa, substabelece suas funções para qualquer outra mulher – a empregada doméstica – mesmo sabendo que ela não possui credenciais para isto. Contratada num dia, no outro não mais poderá errar pois leva logo o nome de burra. Tem que assumir o lugar de pessoas que freqüentaram colégios, tiveram casa e comida, tudo dentro dos conformes. Recebem o que poderíamos chamar de procuração verbal “ad judicia” com plenos poderes para cuidar de tudo, da casa, do marido, dos filhos, delas mesmas. Aliás, o ser humano é o único que entrega sua cria para outro tomar conta.
Das empregadas exige-se uma perfeição que não temos e sequer conseguimos transmitir aos nossos filhos – passamos metade das nossas vidas dizendo-lhes que não devem deixar a toalha molhada sobre a cama, o sapato no meio da sala, o sabonete dentro d’água. Etc.etc. Só aprendem quando casam e aí, então, passam a exigir coisas absurdas das empregadas.
E eu, meus filhos, em verdade em verdade lhes digo:
Quando você, meu filho
sempre que escovar os dentes
colocar a tampa da pasta,
quando tomar banho
estender a toalha e guardar o sabonete
não deixar molhado o banheiro.
Quando você, meu filho
Tirar os sapatos e colocar na sapateira,
As calças no calceiro,
as camisas na cômoda,
Quando você, meu filho cobrir o açucareiro,
a manteigueira,
fechar as portas e as gavetas dos armários,
Quando você fizer tudo isto – será um velho,
meu filho.


Obs: Texto retirado do livro da autora - A Maldição do Serviço Doméstico e outras Maldições –