terça-feira, 8 de dezembro de 2009

PARA UMA COMUNICAÇÃO VERDADEIRAMENTE DEMOCRÁTICA

Marcelo Barros(*)
irmarcelobarros@uol.com.br


Menos de uma semana depois, de comemorarmos com a ONU o 61º aniversário da Declaração dos Direitos Humanos, proclamado pela maioria dos países do mundo no 10 de dezembro de 1948, o Brasil realizará, de 14 a 17 de dezembro, a sua 1ª Conferência Nacional de Comunicação (1ª Confecom). Um elemento fundamental para garantir a democracia verdadeira e radical, assim como a justa consciência dos direitos humanos é o que comumente se chama de mídia. Principalmente, neste início do século XX, os meios de comunicação de massa têm se tornado fundamental orientador de opinião e importante formador da juventude. Já no começo dos anos 50, ao considerar o seu poder na mídia, o então governador Carlos Lacerda dizia sobre Getúlio Vargas: “Se se candidatar, não será eleito e se for eleito, nós o derrubaremos”. Hoje, com muito mais força, a imprensa pode criar a imagem de um líder popular latino-americano como sendo um ditador perigoso ou fazer com que um político já surpreendido em corrupção seja eleito por uma maioria de iludidos para, em breve, ser novamente surpreendido em um ato de corrupção ainda mais claro e mais grave. Consegue alçar às alturas do estrelato um jovem inseguro ou mesmo pouco capaz, assim como pode derrubar alguém que ameace sua hegemonia cultural.

Em uma época como a nossa, devemos a companheiros e companheiras jornalistas campanhas positivas e profundas pelos direitos das minorias, por uma sociedade internacional solidária e contra a corrupção de poderosos antes inamovíveis nos seus cargos. Em todo o mundo, jornalistas dedicados/as têm sido mártires de regimes ditatoriais, de guerras sangrentas e de máfias inescrupulosas. No Brasil, jornalistas tiveram um papel importante na redemocratização do país e têm manifestado apoio à causa dos povos indígenas e dos grupos afro-descendentes na revalorização de suas culturas próprias.

Por isso, só podemos nos alegrar com a realização desta 1ª Conferência Nacional de Educação, promovida pelo governo federal, preparada por conferências estaduais em todo o país e assumida por muitos organismos da sociedade civil e da classe empresarial brasileira, comprometida com as comunicações.

O tema desta 1ª Comecom é amplo e abrangente: “Comunicação: meios para a construção de direitos e de cidadania na era digital”. A conferência será organizada em três eixos temáticos: 1º - os conteúdos das notícias e da comunicação, 2º - como estão e como devem ser os meios de distribuição e o 3º - a questão da cidadania, direitos e deveres inerentes à comunicação. Estes eixos serão subdivididos em 55 temas, discutidos em mesas redondas, debates e grupos de discussões. Para esta 1ª Conferência de Comunicação, se esperam 632 representantes da sociedade civil brasileira, 632 pessoas ligadas às empresas de comunicação e interesses afins e 166 membros de diversas autarquias do governo.

O jornalista e filósofo Altamiro Borges, autor do livro “A Ditadura da Mídia” critica que, no Brasil, os órgãos de comunicação são quase todos privados e pertencem a poucas famílias que têm poder, ao mesmo tempo, sobre jornais, rádios, televisões e internet. Concorda que se deve modificar a lei de imprensa que, no Brasil, ainda vem da época da ditadura militar, mas pede que não se substitua a “lei de imprensa” por uma “libertinagem da imprensa”. Denúncias de baixo calão e sem qualquer comprovação, como nos últimos dias, sujou a reputação de um importante jornal de São Paulo, não podem acontecer sem o mínimo controle da sociedade. Não é questão de censura e sim de capacidade crítica e ética. Se um jornal ou revista de tiragem nacional querem abdicar de um mínimo de seriedade jornalística e se tornarem porta-vozes do setor mais retrógrado da sociedade brasileira, ninguém pode impedir, mas o povo tem o direito de saber com quem está lidando e que existem regras que o protegem contra a crueldade e a desumanidade da baixaria. Principalmente, se em jogo estão figuras que o representam como o presidente da República, seja ele quem for e venha da classe social que vier.

Quem é cristão se recorda de que “Evangelho” significa “boas notícias” não apenas no sentido de notícias simplesmente positivas e agradáveis, mas verdadeiras e que podem nos libertar de tudo o que torna o mundo menos justo e mais desumano. Jesus proclamou não apenas uma doutrina religiosa, mas a boa noticia de um projeto divino para o mundo, encarnado em propostas de vida, justiça e irmandade para todos os seres humanos e em comunhão com o universo. Neste sentido, além das pessoas, que, nas Igrejas, atuam como testemunhas deste reinado divino, atualmente no mundo, são verdadeiros agentes deste evangelho do amor os homens e mulheres que se consagram a uma comunicação justa e transformadora.

É significativo que esta 1ª Conferencia Nacional de Comunicação aconteça neste mês de dezembro, quando, justamente, os cristãos preparam a celebração do Natal de Jesus, Palavra que se fez carne e comunicação de amor para toda a humanidade. Que o compromisso com a verdade e o direito se torne espírito e vida para todas as pessoas envolvidas nesta conferência e, assim, os meios de comunicação possam servir cada vez melhor a toda a sociedade brasileira.


(*) Monge beneditino, teólogo e escritor.