segunda-feira, 6 de julho de 2009

UM TE DEUM PELA INDEPENDÊNCIA

Sebastião Heber
shvc@oi.com.br



O Te Deum é um hino de ação de graças que é cantado em ocasiões especiais. Nesses dias tivemos o já tradicional em Cachoeira, por ocasião do 25 de Junho, e o de Salvador, por ocasião do 2 de Julho (que foi realizado na véspera). Um está ligado ao outro. O de Cachoeira é porque a Independência foi antecipada naquela cidade e o de Salvador é porque a mesma Independência foi consolidada, um ano após o 7 de Setembro, na antiga capital do Brasil.

A partir de 1821, os portugueses trataram de potencializar as províncias mais estratégicas do Brasil, tudo em conseqüência da Revolução Liberal do Porto, em 1829, que levou o Brasil a ficar na iminência de ser recolonizado. As Cortes de Lisboa , por meio de uma Carta Régia, em 15 de fevereiro de 1822, substituíram o comando das Armas da Bahia. Foi nomeado o brigadeiro português Luis Inácio Madeira de Melo. Com o objetivo de deixar o Brasil na condição de colônia, os portugueses passaram a perseguir os brasileiros e até a confiscar os seus bens. Com essa atitude humilhante, os oficiais brasileiros fugiram para as vilas do Recôncavo, especialmente para a Vila de Nossa Senhora do Porto de Cachoeira. Esse lugar se tornou o centro das atividades libertadoras dos baianos e um ponto estratégico. De lá partiu toda uma resistência que culminou com o comando do General Labatut.

Nessa hora houve uma convergência entre proprietários de engenhos, escravos, oficiais baianos a fim de barrar as invasivas intenções portuguesas. Dessa forma, as tropas cachoeiranas que estavam em Belém e no Iguape, reuniram no amanhecer do dia 25 de Junho de 1822 na Praça da Aclamação ( que se chamava Praça da Regeneração). Nessa ocasião, o povo foi convidado a ir à Câmara para a aclamação de D. Pedro. No recinto da Câmara há um belo quadro que eterniza esse momento. Em seguida foram à Matriz para um solene Te Deum, quando D. Pedro foi aclamado como Regente do Brasil. Houve tiros de festim para o alto marcando aquele momento.Madeira de Melo já havia mandado uma canhoneira subir o rio Paraguaçu. Quando ouviram os tiros de festim, pensaram que estavam sendo atacados. E reagiram atirando contra o povo com tiros de canhão. Isso foi a gota dágua para três dias de luta, levando os portugueses à rendição. Dessa forma, a Vila de Cachoeira promoveu a unidade entre as Vilas do Recôncavo e o bloqueio da Baia de Todos os Santos.

Tudo isso antecipou o 7 de Setembro. Mas Salvador continuou, apesar da Independência, um foco de resistência portuguesa que se prolongou até o 2 de Julho de 1823. Esse “detalhe” da Independência do Brasil, só se sabe em pormenor quando estamos aqui, pois a História não o registra com as letras baianas. Por isso, é importante que o 2 de Julho tome uma dimensão nacional, para que todos acompanhem o itinerário da Independência nas suas verdadeiras etapas históricas.

O professor Luis Henrique Tavares, cita que “com a vitória do Exército e da Marinha do Brasil, naquele julho de 1823,consolidou-se a separação política do Brasil e de Portugal e anulou-se o perigo de um ponto de apoio para qualquer intervenção armada da Europa”. Ainda acrescenta o ilustre historiador :”O 2 de Julho ficou na reverência patriótica dos baianos que desde logo estabeleceram a tradição de comemorá-lo anualmente. Aos batalhões e aos heróis do Exército Pacificador, foram acrescentados, posteriormente, as figuras simbólicas do Caboclo e da Cabocla”. O professor Tavares lembra o 2 de Julho de 1849, quando esteve presente o General Labatut, já velho e doente e sem recursos financeiros. Nessa ocasião, ele viera a Salvador agradecer o auxílio da Bahia à sua filha Januária Constança Labatut. Nessa ocasião, ele desfilou pelas ruas centrais da cidade, que estava em festa, ornamentada e orgulhosa da campanha militar e popular de 1822/1823, em homenagem aos heróis anônimos das lutas no Recôncavo em pró da consolidação da independência brasileira.


Sebastião Heber.Prof.Adjunto de Antropologia da Uneb, da Faculdade 2 de Julho e da Cairu. Membro do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, da Academia Mater Salvatoris e do Instituto Genealógico da Bahia.