domingo, 23 de outubro de 2011

LEO, NORMA E DOSTOIÉVSKI


Rômulo José


Sempre imaginei que as novelas de nada servissem a não ser apenas para fabricar jargões que facilmente caem na boca do povo; ditar moda vestuária e alimentícia. E fazer do povo bonecos de fantoche que confundem a própria vida com a trama que assistem. Mas enganei-me. Como assim? Pergunta o leitor atento. Entre mocinhos e vilões, não é que a Literatura se fez presente! Não entendeu? Calma. A Jandira (coleguinha da personagem Norma) também não. Eis como a literatura “quase roubou a cena”.

No capitulo 66 de Insensato Coração, Norma toma um exemplar de Crime e Castigo de Fiódor Dostoievski, olha a capa e diz: “que livro pesado...”. Jandira, sua colega de cela, responde: “é grande, sim, revista é mais leve”. Norma esclarece: “não, eu tava falando que ele é denso, forte. Quando a gente lê aprende mais sobre a vida. Achava que sabia muito coisa, mas só agora comecei entender melhor as pessoas...” (trecho extraído da revista Metáfora ano1 – Nº1 setembro de 2011, p.16)

Após o contato com Dostoiévski, a personagem Norma adquire o poder que a leitura e principalmente a Literatura nos proporciona: a transformação social. O evangelho tão anunciado por Paulo Freire.

Norma abandona o véu da inocência que a fez perecer por crimes não cometidos. E chega até afirmar que se tivesse lido anteriormente, jamais teria sido enganada. Mas o inquieto leitor deva estar se perguntado: onde está o mal aí presente? Fique sabendo você que em abril muitos fãs incontestáveis da teledramaturgia ligaram desesperadamente à Central Globo de Atendimento ao Telespectador a fim de terem em mãos a lista dos livros que compunham a Biblioteca de Norma. Bom saber que a Literatura desperta emoções. Infelizmente, porém, é saber que mais uma vez a “telinha” ditou as regras do viver.


Obs: Imagem enviada pelo autor.