segunda-feira, 11 de outubro de 2010

LUZ E SOMBRA



Djanira Silva
djaniras@globo.com
http://blogdjanirasilva.blogspot.com/


No começo foi o sol. Dia claro, luz nos campos, estrelas inquietas. Um dia sem fim, ou quase sem fim. Horas enamoradas do repicar de sinos embutidos na folhagem. Cantata solene. Final de tarde nas abadias e conventos. Horas multiplicadas nos sorrisos de crianças ainda verdes, adolescentes à espera da colheita do corpo maduro até o apagar de um por de sol no horizonte. Velas acesas iluminam cantigas de ninar. Vendaval enlouquecido, folhas secas no chão, sonhos brancos, lembranças manchadas de luz, estrada de Jericó, caminhos de Damasco, onde o homem desfeito de suas vestes cobre-se de andrajos e põe na cabeça o engano de uma auréola sem cor.

Asas de anjo coladas com lágrimas e segredos na alma do homem - experiência da criação - crateras de angústia, abismos de infâncias esquecidas.
No princípio o vôo, a carreira solta, o grito de águia veloz nos céus de abril. Espanto diante da vida, pintada ao redor de um mundo aureolado de estrelas, coberto de pó, mistérios de dias e noites nos enganos da pureza. Paz na terra aos homens de boa vontade.
No agora, calma, paz silêncio, restos que mal denunciam a presença de uma vida antiga começando de novo. No ontem, apenas o ontem.
Jamais a ressurreição.
Das asas queimadas, as cinzas.
Na alma presa, a ausência da virtude, a melancolia.
Faça-se a escuridão.
Assim foi feito.