terça-feira, 1 de dezembro de 2009

MONS. SADOC

68 ANOS DE SACERDÓCIO
Sebastião Heber
shvc50@gmail.com


No próximo dia 30 de novembro Pe. Sadoc completa 68 anos de ordenação sacerdotal. A longíncua celebração realizada na catedral pelo Cardeal Augusto, parece sempre próxima, pois há uma atualidade na maneira dele realizar esse ministério que faz com que a ação contemporânea dele nos ligue com sua missão primeira.

Foi da tradicional Santo Amaro que ele saiu para o Seminário Menor de Santa Tereza e de lá saiu para a ordenação sacerdotal. Foi lá que aprendeu latim – era famoso nessa área – e tomou gosto pela História que ensinou na antiga Escola Técnica Federal.

Foi sempre pastor, seguindo bem de perto os passos do Bom Pastor. Em todas as Paróquias por onde passou deixou essa marca. Na primeira, a dos santos Cosme e Damião, sofreu muito, pois nem igreja havia. Começou celebrando as missas na varanda de um senhor chamado Antonio, que abria as portas para ele. Lá ele tinha como vizinho o famoso Joãozinho da Goméia e Mãe Xandu. Eram outros tempos, não havia diálogo com os cultos de matriz africana. Mas ele dialogava com seus vizinhos, a ponto de, nas festas de santo, receber comida abundante como presente do Terreiro. E eles o respeitavam. Nas épocas de obrigação o toque dos atabaques era forte durante o dia, mas à noite tudo amainava “para não incomodar o padre”. Que espírito louvável, que compreensão com os irmãos de uma religião que nem era considerada religião. Até a década de 70 era necessário permissão da Polícia para o funcionamento de Terreiros à noite – para não incomodar a vizinhança.

Pe. Sadoc se notabiliza pela caridade com os mais pobres. Esmolas que todos damos de cinqüenta centavos, um ou dois reais, ele as dá de 10, 15 20 reais. Mas muita gente reclama dessa benevolência alegando que é gente que vai usar o dinheiro para as drogas. Mas ele sempre retorque dizendo que o “pedido foi para comida, que é um direito sagrado de todos terem. Mas se vão usar para outras coisas, que eles respondam diante de Deus”. E assim ele prossegue fazendo o bem. O problema dele é não saber dizer um não às múltiplas solicitações. Muitas vezes acontece um “engarrafamento” de compromissos. Mas ele sempre encontra um jeitinho de responder a todos. Quantos padres idosos, e também jovens, com dificuldades financeiras, que, vindo visitá-lo, recebem na despedida um envelope com alguma ajuda significativa. Dessa forma, sua casa está sempre cheia de visitantes, amigos, paroquianos. A mesa corresponde à de uma casa grande ( mas sem senzala), democrática, aberta para todos, com bolos, alguns feitos por Cleusa, mingaus e outros quitutes, outros vêm como presentes de amigas que disputam as receitas de preferência dele.

O amigo Claudelino Miranda, da Amanda, está preparando a Missa na Vitória às 7 : 30 h. na 2ª feira.E como faz anualmente, oferece um almoço no Hotel da Bahia para convidados mais próximos. Ele diz com entusiasmo que “a Bahia nunca teve um padre com 68 anos de sacerdócio. E em todas as paróquias por onde passou, deixou uma marca registrada: fazer o bem, acolher a todos indistintamente”.

O cordelista Antonio Vieira apresentou uns versos que diziam:”Ordenado sacerdote/Dia 30 de novembro/Vai o padre, assim crescendo/O arcebispo D. augusto/Na Missa dá um impulso/Apresenta o reverendo/São Cosme e Damião, Numa sala improvisada/Muito simples, mas decente/A nave então é armada/Foi seu primeiro vigário, Cumpre Sadoc fadário/Da vocação outorgada / Paróquia de Cristo Rei/Foi nomeado vigário/E de S. Judas Tadeu seu padroeiro honorário/ Construiu sua matriz/Em 60 ele feliz/ Pede força a Santo Amaro.”

Interrogado sobre o que significa essa data, o homenageado responde: ” Tenho muita alegria nessa data. É como se fosse o primeiro dia de serviço.è a alegria de servir à Igreja, aos irmãos. É a mesma alegria. O resto é Deus quem dá. Estou tranqüilo, no sentido espiritual. Nunca almejei nada, posições, títulos, fama junto dos superiores... A Igreja para mim é uma palavra : é vida, são os colegas, os pobres, todo mundo que me procura. O importante é conviver na fraternidade. É a essa Igreja que faz gosto a gente ter servido. Somos filhos, servos e livremente a servimos – o resto é literatura. A Igreja é a causa de nossa alegria – Causa letitiae nostrae”.



Sebastião Heber. Prof. Adjunto de Antropologia da Uneb, da Faculdade 2 de Julho, da Cairu, do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, da Academia Mater Salvatoris.